ESTUDOS HERMÉTICOS AVANÇADOS

Meditação no Logos (Verbo) - descubra o poder das palavras sagradas.

Geometria divina - aprenda a usar a energia dos símbolos.

Descubra o Mundo Espiritual à sua volta e CAMINHE POR ELE.

Desvende os Segredos e os Códigos da Bíblia e de outros textos sagrados.

Aprenda como REALMENTE se COMUNICAR com DEUS, o mundo espiritual e as forças que ali existem.

Descubra e aprenda a USAR suas capacidades ESPIRITUAIS.

MERGULHE NOS MISTÉRIOS DO INFINITO E ABRA SEUS OLHOS PARA A VERDADE!

Shema Shekinah Adonai


“Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido"

sexta-feira, 10 de junho de 2011

A Criação do mundo segundo segundo os Hebreus 4

AS DEZ GERAÇÕES: O nascimento de Caim
Houve dez gerações entre Adão e Noé, para que ficasse demonstrado quão paciente é o Senhor – pois todas as gerações provocaram-no à ira, até que ele trouxe sobre elas o dilúvio. Por causa da impiedade deles Deus mudou o seu plano de chamar mil gerações entre a criação do mundo e a revelação da lei no monte Sinai; novecentos e setenta e quatro dessas ele suprimiu antes do dilúvio.
A perversidade entrou no mundo com o primeiro ser nascido de mulher, Caim, filho mais velho de Adão. Quando concedeu o Paraíso ao primeiro casal da humanidade, Deus advertiu-os em particular contra a prática do intercurso carnal um com o outro. Porém, depois da queda de Eva, Satanás abordou-a disfarçado de serpente; o fruto dessa união foi Caim, ancestral de todas as gerações ímpias que se rebelaram contra Deus e levantaram-se contra ele. O parentesco de Caim com Satanás, que é o anjo Samael, ficou patente em sua aparência seráfica. Por ocasião do seu nascimento brotou de Eva a exclamação:
– Através de um anjo do Senhor foi-me dado um homem!
Adão não esteve na companhia de Eva durante a gravidez que gerou Caim. Depois de sucumbir pela segunda vez às tentações de Satanás, permitindo-se ser interrompida em sua penitência, Eva deixara seu marido e partira para oeste, temendo que sua presença pudesse continuar a trazer-lhe aflição. Adão permaneceu no leste.
Quando completaram-se os dias para ela dar à luz e começou a sentir as dores de parto, Eva rogou a Deus por auxílio, mas ele não deu ouvidos às suas súplicas.
– Quem levará a notícia a meu senhor Adão? – ela perguntou a si mesma. – Vocês, luminárias do céu, eu lhes rogo, contem a meu mestre Adão quando voltarem para o leste!
Naquela mesma hora Adão exclamou:
– A lamentação de Eva atingiu-me os ouvidos! Talvez a serpente a tenha assediado novamente! – e apressou-se ao encontro da esposa.
Ao encontrá-la em sofrimento profundo, Adão implorou a Deus em seu favor, e surgiram doze anjos, acompanhados de dois poderes celestiais. Todos esses assumiram juntos postos à direita e à esquerda de Eva, enquanto Miguel, também em pé à sua direita, passava a mão sobre ela, descendo do rosto até o seio, e dizia:
– Abençoada seja você, Eva, por causa de Adão. Foi devido às súplicas e as orações dele que fui enviado para prestar-lhe assistência. Prepare-se para o nascimento do seu filho.
Imediatamente nasceu o menino, uma figura radiante. Não demorou e o bebê pôs de pé, correu para longe e voltou trazendo na mão um talo de capim, que deu à sua mãe. Por isso ele recebeu o nome de Caim, palavra hebraica para haste de capim.
Adão tomou então Eva e o menino para sua casa no leste. Deus mandou-lhe diversos tipos de sementes, pela mão do anjo Miguel, e Adão foi ensinado a cultivar o solo e fazê-lo produzir grãos e frutos, a fim de sustantar sua família e sua posteridade.
Depois de algum tempo Eva deu à luz um segundo filho, a quem deu o nome de Hebel/Sopro, “porque”, disse ela, “ele nasceu para morrer”.
AS DEZ GERAÇÕES: Fratricídio
O assassinato de Abel por parte de Caim não veio como algo totalmente inesperado para os pais deles. Num sonho Eva havia visto o sangue de Abel fluindo para dentro da boca de Caim, que bebia dele avidamente, embora seu irmão implorasse para que ele não o tomasse todo para si. Quando Eva contou o sonho a Adão ele disse, em tom de lamentação:
– Ah, que isso não pressagie a morte de Abel pela mão de Caim!
Ele separou os dois rapazes, designando a cada um uma moradia distinta, e a cada um dos dois ensinou um ofício diferente. Caim tornou-se lavrador do solo, Abel guardador de ovelhas. Tudo em vão: apesar dessas precauções, Caim matou seu irmão.
“VEJO AGORA QUE ATOS DE BONDADE NÃO LEVAM A NADA”.
A hostilidade de Caim para com Abel teve mais de uma origem. Ela começou quando Deus mostrou apreciação pela oferta de Abel, e demonstrou aceitá-la enviando fogo do céu para consumi-la, enquanto a oferta de Caim foi rejeitada.
Eles trouxeram seus sacrifícios no décimo-quarto dia de Nissan, seguindo a orientação de seu pai, que assim havia dito aos filhos:
– Este é o dia no qual, em tempos futuros, Israel oferecerá os seus sacrifícios. Portanto vocês também, tragam sacrifício ao seu Criador neste dia, para que ele tenha prazer em vocês.
O lugar que eles escolheram para apresentar a oferta foi o lugar onde se ergueria mais tarde o Templo de Jerusalém. Abel selecionou do seu rebanho o melhor para o sacrifício, porém Caim primeiro comeu sua refeição, e depois de satisfazer seu apetite ofereceu a Deus o que sobrara, uns poucos grãos de linhaça – como se não fosse ofensa bastante oferecer a Deus um fruto do solo, o mesmo solo que Deus havia amaldiçoado! Não é de se admirar que seu sacrifício não tenha sido aceito em seu favor. Ele recebeu além disso uma repreensão:
– Se você corrigir a sua conduta, sua culpa será perdoada; se não, você será entregue ao poder da inclinação para o mal. Ela está batendo à sua porta, mas depende de você se você a dominará ou será dominado por ela.
Caim achou que havia sido injustiçado, e seguiu-se uma discussão entre ele e Abel.
– Eu achava – disse Caim – que o mundo havia sido criado através da bondade, mas vejo agora que atos de bondade não levam a nada. Deus governa o mundo com poder arbitrário, do contrário por que teria aceitado a sua oferta e não também a minha?
Abel discordou dele, insistindo que Deus recompensa as boas obras sem fazer distinção de pessoas. Se seu sacrifício havia sido aceito graciosamente por Deus e o de Caim não, era porque as suas obras eram boas e as de Caim perversas.
Porém esse não foi o único motivo do rancor de Caim para com Abel. Em parte foi o amor de uma mulher que ocasionou o crime. A fim de assegurar a propagação da raça humana, uma menina (destinada a ser sua esposa) nasceu junto com cada um dos filhos de Adão. A irmã gêmea de Abel era de uma beleza fora do comum, e Caim a desejou – pelo que vivia planejando modos e maneiras para livrar-se do irmão.
“E SE EU TE MATAR, QUEM VAI REQUERER DE MIM O SEU SANGUE?”
Não demorou e a oportunidade se apresentou. Certo dia uma ovelha que pertencia a Abel pisoteou uma plantação de Caim. Tomado de fúria, este exclamou:
– Que direito você tem de de viver na minha terra e deixar que suas ovelhas se alimentem aqui?
Abel retrucou:
– E que direito você tem de usar os produtos das minhas ovelhas, fazendo para si roupas da lã que elas produzem? Se você despir a lã do meu rebanho, com a qual está vestido, e me pagar pela carne das reses que já comeu, então eu abandonarei a sua terra, como você deseja, e viverei voando em pleno ar, se conseguir.
Pelo que Caim disse:
– E se eu te matar, quem vai requerer de mim o seu sangue?
– Deus – respondeu Abel, – que nos trouxe ao mundo, irá me vingar. Ele exigirá o meu sangue da sua mão, se você me matar. Deus é o juiz, e visitará com suas perversidades os perversos, e com suas maldades os maus. Se você me matar, Deus saberá o seu segredo, e dar-lhe-á punição.
Essas palavras deixaram Caim ainda mais furioso, pelo que atirou-se sobre o irmão. Abel era mais forte do que ele e o teria vencido, mas no último momento Caim implorou por misericórdia, e o gentil Abel, que havia imobilizado o irmão, deixou-o ir. Mal o havia libertado, Caim voltou-se novamente contra ele, e o matou. É portanto verdadeiro o ditado: “não faça o bem ao mau, para que o mal não recaia sobre você”.
AS DEZ GERAÇÕES: A punição de Caim
A morte de Abel foi a mais cruenta possível. Sem saber qual ferimento seria fatal, Caim foi atirando pedras sobre todas as partes do seu corpo, até que uma atingiu-o no pescoço e infligiu a morte.
Depois de cometer o assassinato Caim resolveu fugir, dizendo a si mesmo:
– Meus pais exigirão de mim satisfação a respeito de Abel, pois não há outro ser humano sobre a terra.
Ele havia acabado de refletir dessa forma quando Deus lhe apareceu, e dirigiu-se a ele com as seguintes palavras:
– Dos seus pais você pode fugir, mas pode também fugir da minha presença? Pode alguém se esconder num lugar tão secreto que eu não possa vê-lo? Pobre de Abel por ter demonstrado misericórdia de você, e por não tê-lo matado quando podia. Pobre dele por ter dado a você a oportunidade de matá-lo.
“FOI O SENHOR QUEM O MATOU.”
Quando Deus lhe perguntou “Onde está seu irmão Abel?”, Caim respondeu:
– Sou por acaso o guardião do meu irmão? É o senhor que vigia todas as criaturas, e pede satisfação de mim! É verdade, eu o matei, mas foi o senhor quem criou em mim a inclinação para o mal. O senhor guarda todas as coisas, por que permitiu que eu o matasse? Foi o senhor quem o matou, pois se tivesse olhado favoravelmente para a minha oferta, como fez com a dele, eu não teria tido razão para invejá-lo, e não o teria matado.
Porém Deus disse:
– O sangue do seu irmão, brotando de seus muitos ferimentos, clama contra você, e também o sangue de todos os justos que poderiam ter sido gerados dos lombos de Abel.
A alma de Abel também denunciou o assassino, pois não pôde encontrar descanso em lugar algum; não pôde subir ao céu, nem habitar na sepultura com seu corpo, pois nenhuma alma humana havia feito qualquer das duas coisas antes. Apesar disso Caim recusou-se a confessar a sua culpa. Ele insistiu que nunca tinha visto um humem morrer; como poderia saber que atirar pedras em Abel acabaria causando a sua morte? Então, por causa de Caim, Deus amaldiçoou o solo, para que não produzisse fruto para ele. Com um único castigo Caim e a terra foram punidos, a terra por ter abrigado o cadáver de Abel ao invés de deixá-lo acima do chão.
Na dureza do seu coração, Caim disse:
– Ó, Senhor do mundo! Há por acaso informantes que denunciem os homens diante do senhor? Meus pais são os únicos seres humanos vivos, e eles nada sabiam do que fiz. O senhor habita o céu, como poderia ficar sabendo das coisas que acontecem na terra?
Deus respondeu:
– Tolo! Eu sustento o mundo inteiro. Eu o fiz, eu o suportarei.
Essa resposta deu a Caim a oportunidade de fingir arrependimento.
– O senhor suporta o mundo inteiro – disse ele – e meu pecado não pode suportar? É verdade, meu pecado é grande demais para ser suportado. Mas foi apenas ontem que o senhor baniu meu pai da sua presença, e hoje está banindo a mim. Logo será dito, de fato, que o negócio do senhor é banir.
Embora isso não passasse de dissimulação, e não verdadeiro arrependimento, Deus concedeu perdão a Caim, e removeu metade do seu castigo sobre ele. Originalmente o decreto condenava-o a ser fugitivo e errante sobre a terra. Agora ele não precisava mais vagar eternamente, mas deveria permanecer fugitivo. E ser obrigado a suportá-lo foi difícil o bastante, pois a terra tremeu sob Caim, e todos os animais, selvagens e domésticos, entre eles a amaldiçoada serpente, reuniram-se, planejando devorá-lo a fim de vingar o sangue inocente de Abel. Finalmente Caim não foi mais capaz de suportar, e rompendo em lágrimas, exclamou:
– Para onde me ausentarei do seu Espírito? Para onde fugirei da sua face?
A fim de protegê-lo do massacre das feras, Deus gravou na testa de Caim uma letra do seu nome santo, e disse além disso aos animais:
– A punição de Caim não será como a punição dos futuros assassinos. Ele derramou sangue, mas ninguém havia para dar-lhe instrução. De agora em diante, portanto, quem matar será morto. 
Deus então deu-lhe o cachorro como proteção contra as feras selvagens e, a fim de marcá-lo como pecador, afligiu-lhe com lepra.

“TÃO PODEROSO É O ARREPENDIMENTO, E EU NÃO SABIA!”
O arrependimento de Caim, mesmo sendo insincero, produziu resultados bons. Quando Adão o encontrou e perguntou que condenação havia sido decretada contra ele, Caim contou como seu arrependimento aplacara a ira de Deus, e Adão exclamou:
– Tão poderoso é o arrependimento, e eu não o sabia!
Por essa razão ele compôs um hino de louvor a Deus, que começava com as seguintes palavras: “Boa coisa é confessar seus pecados ao Senhor!”
O crime cometido por Caim teve conseqüências perniciosas não apenas para ele mesmo, mas também para toda a natureza. Antes os frutos que a terra produzia quando ele arava o solo tinham o sabor das frutas do Paraíso. Agora seu trabalho nada produzia além de espinhos e abrolhos. O solo alterou-se e deteriorou-se no exato instante do fim violento de Abel. Na parte da terra onde a vítima vivia, por tristeza pela sua perda, as árvores e as plantas recusaram-se a dar seus frutos. Foi só com o nascimento de Sete que as plantas que cresciam na porção de terra que pertencia a Abel começaram a florescer e produzir novamente. Elas porém nunca recuperaram seus poderes anteriores. Antes a videira produzia novecentas e vinte e seis variedades diferentes de frutos, agora produzia apenas uma. O mesmo aconteceu com todas outras espécies; apenas no mundo que há de vir elas recuperarão seus poderes originais.
A natureza também foi modificada pelo sepultamento do corpo de Abel. Por um longo tempo ele jazeu exposto, porque Adão e Eva não sabiam o que fazer com ele. Sentados ao lado dele eles choravam, enquanto o fiel cão de Abel vigiava para que não lhe fizessem mal nenhum pássaro ou animal selvagem. Certa ocasião, em meio ao seu lamento, os pais observaram um corvo raspando a superfície do solo em determinado lugar, e em seguida enterrando ali um pássaro morto de sua própria espécie. Adão, seguindo o exemplo do corvo, enterrou o corpo de Abel, e o corvo foi recompensado por Deus. Seus filhotes nascem com penas brancas, pelo que os pássaros mais velhos os abandonam, não reconhecendo-os como sua própria prole, mas tomando-os por serpentes. Porém Deus os alimenta até que a sua plumagem se torna negra, e os pais retornam a eles. Como recompensa adicional, Deus concede o seu pedido quando os corvos pedem chuva.
AS DEZ GERAÇÕES: Os habitantes das sete terras
Quando foi expulso do Paraíso, Adão chegou primeiro à mais inferior das sete terras, Erez, que é escura, sem um raio de luz, e inteiramente vazia. Ele ficou apavorado, especialmente diante das chamas da espada que se revolve incessantemente, e que está nesta terra.
Depois que Adão efetuou penitência Deus conduziu-o à segunda terra, Adamah, onde há luz refletida do seu próprio céu e de suas estrelas e constelações semelhantes a espectros. Aqui habitam os seres semelhantes a espectros frutos da união de Adão com os espíritos. Vivem perpetuamente tristes; a emoção da alegria é desconhecida para eles. Deixam sua própria terra e dirigem-se à terra habitada pelos homens, onde transformam-se em espíritos malignos; depois retornam para sempre para sua residência, arrependem-se de seus feitos perversos e cultivam o solo, que no entanto não lhes produz trigo ou qualquer outra das sete espécies.
Nesta Adamah nasceram Caim, Abel e Sete. Depois do assassinato de Abel, Caim foi mandado de volta para Erez, onde foi conduzido ao arrependimento pelo terror diante da escuridão e das chamas da espada que revolve incessantemente. Aceitando a sua penitência, Deus permitiu que ele ascendesse até a terceira terra, Arka, que recebe alguma luz do sol. A Arka foi cedida aos cainitas para sempre, como seu domínio perpétuo. Eles cultivam o solo e plantam árvores, mas não tem nem trigo nem qualquer outra das sete espécies.
ESTÃO EM PERPÉTUO DESACORDO CONSIGO MESMOS.
Alguns dos cainitas são gigantes, alguns são anões. Eles têm duas cabeças, pelo que jamais são capaz de chegar a uma decisão. Estão em perpétuo desacordo consigo mesmos: se estão piedosos agora, podem estar inclinados para a maldade no momento seguinte.
Em Ge, a quarta terra, vive a geração da Torre de Babel e seus descendentes. Deus baniu-os para lá porque a quarta terra não fica longe do Gehenna, e portanto do fogo ardente. Os habitantes de Ge são talentosos em todas as artes e hábeis em todos os departamentos da ciência e do conhecimento, e suas residências transbordam de riquezas. Quando visitados por um habitante da terra eles lhe dão a coisa mais preciosa que possuem, mas conduzem-no em seguida a Neshiah, a quinta terra, onde ele se esquece de sua origem e de seu lar. Neshiah é habitado por anões desprovidos de narizes, que respiram através de dois orifícios. Eles não tem memória; logo que algo acontece eles se esquecem imediatamente do que ocorreu, pelo que sua terra é chamada de Neshiah, “esquecimento”. A quarta e a quinta terra são como Arka; têm árvores, mas não trigo ou qualquer outra das sete espécies.
A sexta terra, Ziah, é habitada por homens bonitos que são donos de riqueza abundante e vivem em suntuosas residências, mas carecem de água, como indica o nome do seu território, Ziah/seca. Devido a isso a vegetação é esparsa entre eles, e seu cultivo de árvores alcança pouco sucesso. Eles precipitam-se sobre qualquer nascente que encontram, e por vezes conseguem deslizar através delas para a nossa terra, onde satisfazem seu acentuado apetite pela comida consumida pelos habitantes da nossa terra. Quanto ao mais, são homens de fé firme, mais do que qualquer outra estirpe de humanidade.
Adão permaneceu em Adamah até o nascimento de Sete. Em seguida, tendo passado pela terceira terra, Arka, habitação dos cainitas, e pelas três terras seguintes, Ge, Neshiah e Ziah, Deus transportou-o a Tebel, a sétima terra, a terra habitada pelos homens.
AS DEZ GERAÇÕES: Os descendentes de Caim
Caim sabia muito bem que sua culpa de sangue seria visitada sobre ele na sétima geração, pois assim Deus havia decretado contra ele. Ele esforçou-se, portanto, para imortalizar seu nome através de monumentos, e tornou-se construtor de cidades. A primeira chamou-se Enoque, batizada com o nome do seu filho, porque a partir do nascimento de Enoque Caim passou a experimentar alguma medida de descanso e paz. Além dessa Caim fundou outras seis cidades. Essa edificação de cidades era um ato de perversidade, porque ele as cercava com uma muralha, forçando sua família a permanecer do lado de dentro. Suas outras iniciativas foram todas igualmente perversas: a punição que Deus lhe ordenara não efetuara nenhum aperfeiçoamento moral.
ELES DEDICAVAM TODO SEU AMOR E ATENÇÃO ÀS ESPOSAS ESTÉREIS.
Caim pecava a fim de assegurar o seu próprio prazer, porém seus vizinhos sofriam prejuízo como resultado. Ele aumentava os bens de sua casa através de rapina e violência e incitava seus conhecidos a buscarem prazeres e pilhagens através de roubo, tornando-se um grande líder de homens de conduta perversa. Ele introduziu ainda uma mudança na simplicidade de vida na qual os homens vinham vivendo, sendo o inventor dos pesos e das medidas. Dado que os homens viviam de modo inocente e generoso enquanto nada sabiam dessas artes, Caim transformou o mundo em maliciosa velhacaria.
Como Caim foram todos os seus descendentes, perversos e sem piedade, pelo que Deus resolveu destruí-los.
O fim de Caim lhe sobreveio na sétima geração dos homens, e lhe foi infligida pela mão de seu tataraneto Lameque. Lameque era cego, e quando saía para caçar era conduzindo pelo seu filho mais novo, que informava o pai quando havia caça à vista, a qual Lameque então abatia com seu arco e flecha. Certa vez ele e o filho saíram numa caçada, e o rapaz discerniu à distância alguma coisa que tinha chifres; ele tomou-a por um animal de alguma espécie, e disse ao cego Lameque que fizesse sua flecha voar. A mira foi boa, e a presa caiu. Quando chegaram perto da vítima o rapaz exclamou:
– Pai, o senhor matou algo que se parece um ser humano em todos os sentidos, exceto que tem um chifre na cabeça.
Lameque soube de imediato o que acontecera – tinha matado seu ancestral Caim, que Deus marcara na testa com um chifre. Em seu desespero ele bateu as mãos uma contra a outra, matando inadvertidamente seu filho entre elas. Infortúnio seguiu-se a infortúnio. A terra abriu a sua boca e engoliu as quatro gerações nascidas de Caim – Enoque, Irade, Meujael e Metusael. Lameque, cego como era, não podia voltar para casa; teve de permanecer ao lado dos cadáveres de Caim e de seu filho. Ao entardecer suas esposas, procurando-o, encontraram-no ali. Quando ouviram o que ele tinha feito quiseram separar-se dele, ainda mais por saberem que qualquer descendente de Caim estava condenado à aniquilação. Porém Lameque argumentou:
– Se Caim, que cometeu assassinato de forma premeditada, foi punido apenas na sétima geração, eu, que não tive a intenção de matar ser humano algum, posso esperar que a retribuição seja adiada por setenta e sete gerações.
Lameque foi com suas esposas até Adão, que ouviu ambas as partes e decidiu o caso em favor de Lameque.
CAIM INTRODUZIU UMA MUDANÇA NA SIMPLICIDADE DE VIDA NA QUAL OS HOMENS VINHAM VIVENDO.
A corrupção daquela época, e em especial a depravação da linhagem de Caim, fica evidente no fato de que Lameque, bem como todos os homens na geração do dilúvio, casavam-se com duas mulheres, uma com o propósito de criar filhos, a outra a fim de entregarem-se às indulgências da carne – pelo que essa segunda era tornada infértil por meios artificiais. Como os homens daquela época tinham inclinação ao prazer ao invés de desejo de cumprirem seu dever para com a raça humana, eles dedicavam todo seu amor e atenção às esposas estéreis, enquanto as outras esposas passavam seus dias como viúvas, sem alegria e em depressão.
As duas esposas de Lameque, Ada e Zilá, deram à luz dois filhos cada um; Adá dois meninos, Jabal e Jubal, e Zilá um menino, Tubal-Caim e uma menina, Naamá. Jabal foi o primeiro entre os homens a edificar templos aos ídolos, e Jubal inventou a música cantada e tocada dali em diante. O nome de Tubal-Caim foi bem dado, porque ele completou a obra de seu ancestral Caim; Caim cometeu assassinato, e Tubal-Caim, o primeiro a saber afiar o ferro e o cobre, forneceu os instrumentos usados em guerras e combates. Naamá, “a adorável”, ganhou seu nome devido aos sons doces que produzia de seus címbalos quando chamava os adoradores a prestarem tributo aos ídolos.
AS DEZ GERAÇÕES: Os descendentes de Adão e Lilith
Quando as esposas de Lameque ouviram a decisão de Adão, que deveriam continuar a viver com o marido, viraram-se para Adão e disseram:
– Médico, cure a si mesmo!
Elas referiam-se ao fato de que Adão vinha ele mesmo vivendo separado da esposa desde a morte de Abel, pois havia dito: “porque eu deveria gerar filhos, se é para expô-los à morte?”
Embora evitasse o intercurso com Eva, Adão era visitado em seus sonhos por espíritos do sexo feminino, e dessa união com elas foram gerados demônios de várias espécies, que foram dotados de capacidades peculiares.
SEU MÉTODO CONSISTIA EM ESCREVER UMAS POUCAS PALAVRAS NUM PEDAÇO DE PAPEL, QUE ELE FAZIA ENTÃO SEU ALUNO ENGOLIR.
Certa vez viveu na Palestina um homem muito rico e devoto, que teve um filho chamado Rabi Hanina. Esse homem conhecia a Torá de cor. Quando estava a ponto de morrer ele mandou chamar seu filho, o Rabi Hanina, e disse a ele, como último pedido, que ele estudasse a Torá dia e noite, colocasse em prática os mandamentos da lei e fosse amigo fiel dos pobres. Disse também que ele e sua esposa, mãe do Rabi Hanina, morreriam no mesmo dia, e que os sete dias de luto pelos dois terminariam na véspera da Páscoa. Disse ao filho que não lamentasse em excesso, mas fosse ao mercado naquele dia e comprasse o primeiro artigo que lhe oferecessem, não importando o preço que custasse. Se fosse algo comestível, deveria prepará-lo e servi-lo com grande cerimônia. Seus gastos e seu trabalho seriam recompensados.
Tudo aconteceu conforme o previsto: o homem e a esposa morreram naquele dia, e o final da semana de luto coincidiu com a véspera da Páscoa. O filho por sua vez cumpriu a vontade do pai: foi até o mercado, onde veio ao seu encontro um velho oferecendo-lhe para comprar uma travessa de prata com tampa. Ele a comprou como seu pai havia dito que fizesse, embora o preço fosse exorbitante. A travessa foi colocada sobre a mesa do Sêder, e quando o Rabbi Hanina ergueu a tampa havia dentro uma segunda travessa, e dentro dela um sapo vivo, saltando e pulando alegremente. Ele deu ao sapo comida e bebida, e ao fim da festa ele havia ficado tão grande que o Rabi Hanina fez para ele uma caixa, dentro da qual ele vivia e comia. Com o passar do tempo a caixa ficou pequena, e o rabi construiu um quarto, colocou o sapo dentro e deu-lhe comida e bebida em abundância – tudo isso a fim de não violar o último desejo do pai.
Porém o sapo engordou e cresceu, consumindo tudo que seu dono possuía, até que o Rabi Hanina foi finalmente privado de todas as suas posses. O sapo então abriu a boca e começou a falar:
– Meu caro Rabbi Hanina – disse ele, – não se preocupe. Vendo que você me criou e cuidou de mim, peça-me qualquer coisa que o seu coração desejar, e lhe será concedido.
– Eu nada desejo – respondeu o Rabbi Hanina, – além de que você me ensine toda a Torá.
O sapo concordou e ensinou-lhe de fato toda a Torá, e também os setenta idiomas dos homens. Seu método consistia em escrever umas poucas palavras num pedaço de papel, que ele fazia então seu aluno engolir. Dessa forma o rabi aprendeu não apenas a Torá e os setenta idiomas, mas também as línguas dos animais e dos pássaros.
Depois disso o sapo disse à esposa do Rabi Hanina:
– Você cuidou bem de mim, e eu não lhe dei recompensa alguma. Mas sua compensação será dada a você antes que eu vá embora, basta que vocês dois me acompanhem à floresta. Ali vocês verão o que farei por vocês.
Assim sendo, eles foram à floresta com ele. Chegando lá o sapo começou a gritar, e ao som de sua voz reuniu-se toda sorte de animais selvagens e pássaros. Ele ordenou que esses trouxessem pedras preciosas, tantas quanto pudessem carregar. Deveriam também trazer ervas e raízes para a esposa do Rabi Hanina, que ele ensinou a usar como remédio para todas as espécies de doenças. Tudo isso eles deveriam levar para casa consigo. Quando estavam prestes a voltar para casa, o sapo disse-lhes assim:
– Que o Santo, bendito seja, tenha misericórdia de vocês, e os recompense por todo trabalho que tiveram por minha causa, sem sequer perguntarem quem sou. Devo agora revelar-lhes minha origem: sou filho de Adão, um filho que ele gerou durante os cento e trinta anos em que esteve separado de Eva. Deus concedeu-me o poder de assumir qualquer forma ou disfarce que desejar.
O rabi Hanina e sua esposa deixaram sua casa e ficaram muito ricos, desfrutando do respeito e da confiança do rei.
AS DEZ GERAÇÕES: Os descendentes de Sete
As exortações das esposas de Lameque produziram efeito em Adão. Depois de cento e trinta anos de separação ele voltou para Eva, e o amor que ele nutria por ela era agora muitas vezes mais forte do que antes. Quando não estava corporeamente com ele, Eva estava presente nos seus pensamentos. O fruto de sua união foi Sete, que estava destinado a ser ancestral do Messias.
Sete nasceu formado de tal modo que não foi necessário executar nele o rito da circuncisão. Dessa forma Sete foi um dos treze homens que de algum modo nasceram perfeitos1. Adão gerou-o à sua imagem e semelhança, ao contrário de Caim, que não havia sido à sua imagem e semelhança. Sete tornou-se assim, no sentido mais genuíno, pai da raça humana, especialmente dos piedosos, enquanto que os depravados e ímpios são descendentes de Caim.
Mesmo durante o tempo de vida de Adão os descendentes de Caim tornaram-se perversos ao extremo, morrendo um após o outro, cada um mais perverso do que o anterior. Eram intoleráveis na guerra, veementes em roubalheiras, e se algum deles se mostrasse hesitante em matar gente, seria não obstante ousado em agir injustamente e promover dano visando seu próprio lucro.
Quanto a Sete, quando chegou à idade na qual foi capaz de discernir o que era bom tornou-se um homem virtuoso, e como tinha excelente caráter, deixou filhos que imitaram suas virtudes. Todos os seus filhos provaram ser de boa índole; habitaram a mesma região sem dissensões, felizes e sem que qualquer infortúnio lhes sobreviesse, até morrerem. Foram também os inventores daquela espécie singular de sabedoria que estuda os corpos celestes e sua ordem. Para que suas invenções não se perdessem antes que fossem suficientemente divulgadas, ergueram dois pilares, diante da previsão de Adão de que o mundo seria destruído numa ocasião pela força do fogo e em outra ocasião pela violência e quantidade da água. O primeiro pilar era de barro, o segundo de pedra; gravaram suas descobertas em ambos, para que caso o pilar de barro fosse destruído pela inundação restasse o pilar de pedra e exibisse suas descobertas para a humanidade, informando também que houvera outro pilar, feito de barro, erguido por eles.
AS DEZ GERAÇÕES: Enos
Perguntaram a Enos o nome do seu pai e ele disse “Sete”. Os que perguntavam, a gente do seu tempo, prosseguiram:
– E o pai de Sete, quem foi?
Enos:
– Adão.
– E o pai de Adão, quem foi?
– Adão não teve pai nem mãe, Deus formou-o do pó da terra.
– Mas o homem não se parece em nada com pó!
– Depois de morrer o homem retorna ao pó, como Deus disse: “o homem ao pó voltará”. Mas no dia da sua criação o homem foi feito à imagem de Deus.
– E a mulher, como foi criada?
– Macho e fêmea os criou.
– Mas como?
– Deus tomou água e terra e moldou-os na forma de homem.
– Mas como? – insistiram os que o questionavam.
Enos tomou seis torrões de terra, misturou-os e modelou-os, formando uma imagem a partir de pó e argila.
– Mas – disseram as pessoas – essa imagem não anda nem tem qualquer sopro de vida.
Enos foi então mostrar como Deus soprara o fôlego da vida nas narinas de Adão, mas quando começou a soprar na imagem que tinha formado Satanás entrou nela, e a figura começou a andar, e as pessoas do seu tempo que haviam estado perguntando a Enos sobre esses assuntos saíram correndo atrás dela, dizendo:
– Qual é a diferença entre ajoelhar diante desta imagem e demonstrar deferência a um homem?
SUAS FEIÇÕES PASSARAM A LEMBRAR CENTAUROS E MACACOS, E OS DEMÔNIOS PERDERAM O MEDO DOS HOMENS.
A geração de Enos foi por essa razão a primeira de adoradores de ídolos, e a punição pela sua insensatez não demorou a chegar. Deus fez com o mar ultrapassasse seus limites, e parte da terra foi inundada. Foi também ocasião em que as montanhas tornaram-se rochas, e os cadáveres dos homens começaram a apodrecer. Outra conseqüência do pecado da idolatria foi que as feições dos homens deixaram de ostentar a imagem e semelhança de Deus, como faziam os rostos de Adão, Sete e Enos. Suas feições passaram a lembrar centauros e macacos, e os demônios perderam o medo dos homens.
Porém as práticas idólatras introduzidas na época de Enos trouxeram uma conseqüência ainda mais grave. Quando Deus expulsou Adão do Paraíso a Shekiná ficou para trás, entronizada acima de um querubim sob a árvore da vida. Os anjos desciam em hostes do céu e iam até ela para receber suas instruções, e Adão e seus descendentes sentavam-se junto do portão para aquecer-se no esplendor da Shekiná, sessenta e cinco vezes mais brilhante do que o esplendor do sol. Este brilho da Shekiná cura as doenças de todos sobre os quais recai, e nem insetos nem demônios podem aproximar-se deles ou fazer-lhes mal.
Foi assim até o tempo de Enos, quando os homens começaram a ajuntar ouro, prata, pedras preciosas e pérolas de todas as partes da terra, e fizeram com eles ídolos de mil parasangas de altura. E que é pior: através das artes mágicas ensinadas a eles pelos anjos Uza e Azael, fizeram-se passar por mestres das esferas celestes e forçaram o sol, a lua e as estrelas a servirem-nos ao invés de a Deus. Isso levou os anjos a perguntarem a Deus:
– “O que é o homem, para que te lembres dele?” Porque o senhor abandonou o mais alto céu, o assento da sua glória e seu exaltado trono no Arabot e desceu até os homens, que prestam adoração a ídolos, colocando-o no mesmo nível que eles?
A Shekiná foi assim induzida a deixar a terra e ascender ao céu, em meio ao clangor e o trinado das trombetas das miríades de exércitos celestiais.

AS DEZ GERAÇÕES: A queda dos anjos
A depravação da humanidade, que começou a manifestar-se no tempo de Enos, havia se multiplicado enormemente no tempo de seu neto Jarede, devido à queda dos anjos. Quando viram as belas e atraentes filhas dos homens, os anjos cobiçaram-nas, e disseram:
– Tomaremos esposas apenas dentre as filhas dos homens, e geraremos filhos com elas.
Seu líder Shemhazai disse:
– Temo por mim que vocês não coloquem esse plano de vocês em execução, e seja apenas eu a sofrer as conseqüências de um grande pecado.
E eles todos responderam:
– Faremos um juramento, comprometendo-nos individualmente e em grupo a não abandonarmos o plano, mas levá-lo a cabo.
Duzentos anjos desceram ao cume do monte Hermom, que deve seu nome a esta precisa ocasião, pois os anjos haviam jurado cumprir seu propósito sob pena de Herem/anátema. Sob a liderança de vinte capitães eles se macularam com as filhas dos homens, às quais ensinaram feitiços, encantos, o modo correto de se cortar raízes e a eficácia das plantas. O resultado desses casamentos mistos foi uma raça de gigantes de três mil varas1 de altura, os quais consumiram os recursos dos homens. Quando todas as reservas haviam se esgotado, e vendo que não podiam obter mais nada deles, os gigantes voltaram-se contra os homens e devoraram muitos deles, e o restante dos homens começou a transgredir contra as aves, animais selvagens, répteis e peixes, comendo sua carne e bebendo seu sangue.
A terra então protestou contra esses malfeitores, mas os anjos decaídos continuaram a corromper a humanidade. Azazel ensinou os homens a fazerem facas, armas, escudos e cotas de malha para usarem em carnificinas. Mostrou-lhes os metais e como trabalhá-los, bem como pulseiras e toda espécie de quinquilharias; ensinou-os a usar ruge nos olhos e a embelezarem os cílios, e a se enfeitarem com as jóias mais raras e preciosas e toda sorte de tintas. O chefe dos anjos caídos, Shemhazai, instruiu-os a respeito de exorcismos e da técnica de cortar raízes; Armaros ensinou-os a conjurar feitiços; Barakel, a divinação pelas estrelas; Kawkabel, a astrologia; Ezekil, a augurar através das nuvens; Arakiel, a ler os sinais da terra; Samsawil, os sinais do sol; e Seriel, os sinais da lua.
Enquanto todas essas abominações corrompiam a terra, o piedoso Enoque vivia num lugar secreto. Ninguém dentre os homens conhecia seu local de residência, ou sabia o que havia acontecido com ele, pois ele habitava com os anjos sentinelas e os santos. Certa ocasião ele ouviu uma voz endereçada a ele:
– Enoque, você que é um escriba de integridade, vá até os sentinelas do céu, que abandonaram o alto céu, o lugar de eterna santidade, a fim de se contaminarem com mulheres, fazendo o que homens fazem, tomando esposas para si e entregando-se nos braços da destruição sobre a terra. Vá e anuncie a eles que não encontrarão paz nem perdão; todas as vezes que tiverem alegria em sua descendência eles verão a morte violenta dos seus filhos, e suspirarão diante da ruína de suas crianças. Orarão e suplicarão para sempre, mas jamais obterão misericórdia ou paz.
Enoque foi até Azazel e os demais anjos caídos, a fim de anunciar a condenação proferida contra eles. Ficaram todos apavorados; tomados de tremor, imploraram a Enoque que preparasse para eles uma petição e fosse lê-la para o Senhor do céu, pois eles não podiam falar com Deus como antes, nem levantar os olhos para o céu, por vergonha diante dos seus pecados.
Enoque fez o que eles pediam, e numa visão foi-lhe concedida a resposta que ele deveria levar de volta aos anjos. Em sua visão Enoque foi elevado ao céu sobre nuvens, e colocado diante do trono de Deus. Deus disse:
– Vá e diga aos sentinelas do céu que o mandaram para interceder por eles: “Na verdade eram vocês que deveria pedir em favor dos homens, não homens em favor de vocês. O que levou vocês renegaram os céus elevados, santos e eternos, e poluir-se com as filhas dos homens, tomando-as como esposas, fazendo como as raças da terra e gerando gigantes? Os gigantes gerados pela união de seres de carne e seres espirituais serão chamados na terra de espíritos malignos, e a terra será a habitação deles. Espíritos malignos procederão de seus corpos, pois foram criados do alto, e os santos sentinelas são seu princípio e sua origem; serão espíritos malignos sobre a terra, e de espíritos malignos serão chamados. Os espíritos do céu têm o céu por habitação, mas a habitação dos espíritos da terra, nascidos sobre a terra, é a terra. Os espíritos dos gigantes irão devorar, oprimir, atacar, guerrear e causar destruição sobre a terra, e infligirão tormento. Não consumirão nenhuma espécie de comida, tampouco terão sede, e serão invisíveis. Esses espíritos se levantarão contra os filhos dos homens e contra as mulheres, porque procederam delas. Desde os dias do assassinato e da destruição e da morte dos gigantes, momento em que os espíritos abandonarem a alma de sua carne, a fim de destruírem sem incorrerem em julgamento – assim eles destruirão até o dia em que seja consumada a grande consumação do grande mundo”. Agora, quanto aos sentinelas que o enviaram para interceder por eles, que residiam anteriormente no céu, diga a eles: “Vocês estavam no céu, e embora as coisas ocultas não tivesse ainda sido reveladas a vocês, vocês conhecem mistérios sem valor, e na dureza do seu coração repassaram esses mistérios para as mulheres, e através deles homens e mulheres ocasionam muita maldade sobre a terra”. Diga portanto a eles: “Vocês não tem paz!”
AS DEZ GERAÇÕES: Enoque, governante e mestre
Depois de viver por um longo tempo afastado dos homens, Enoque ouviu certa ocasião um anjo que o chamava:
– Enoque, Enoque, prepare-se e abandone a casa e o lugar secreto em que você tem se escondido, e assuma autoridade sobre os homens, para ensinar-lhes os caminhos em que devem andar e as obras que devem praticar a fim de viverem em conformidade com Deus.
Enoque abandonou sua reclusão e foi até aos locais freqüentados pelos homens, juntou-os ao redor de sim e instruiu-os na conduta agradável a Deus. Mandou mensageiros a todos os lugares para anunciar: “Vocês que desejam conhecer os caminhos de Deus e uma conduta íntegra, venham até Enoque!”
Por causa disso um vasto número de pessoas congregou-se ao redor dele, a fim de ouvirem a sabedoria que ele estava pronto a ensinar e aprenderem da sua boca o que é certo e errado. Até mesmo reis e príncipes, nada menos do que trinta deles, uniram-se a Enoque e submeteram-se à sua autoridade, para serem ensinados e guiados por ele da mesma forma que ele ensinava e guiava os demais.
Dessa forma a paz reinou sobre o mundo durante os duzentos e quarenta e três anos em que a influência de Enoque prevaleceu.
Ao final desse período, no ano em que Adão morreu e foi enterrado com grandes honras por Sete, Enos, Enoque e Matusalém, Enoque resolveu retirar-se novamente da convivência dos homens e devotar-se exclusivamente ao serviço de Deus. Ele porém recolheu-se gradualmente: no começo ele passava três dias em oração e louvor a Deus, e no quarto dia voltava até seus discípulos e oferecia-lhes instrução. Muitos anos se passaram dessa forma: ele passou a vê-los uma vez por semana, depois uma vez por mês e finalmente um vez por ano.
Os reis, príncipes e todos os outros que ansiavam por ver Enoque e ouvir suas palavras não ousavam aproximar-se dele durante os seus períodos de recolhimento. Tamanha era a majestade que descia sobre seu rosto que eles não olhavam para ele, temendo por suas vidas. Eles portanto decidiram que todos os homens deveriam apresentar suas questões diante de Enoque no dia em que ele aparecesse entre eles.
Era poderosa a a impressão deixada pelo ensino de Enoque sobre os que o ouviam. Prostravam-se todos diante dele e exclamavam:
– Longa vida ao rei! Longa vida ao rei!
Certo dia, enquanto Enoque dava audiências a seus seguidores, um anjo apareceu e lhe fez saber que Deus havia decidido estabelecê-lo como rei sobre todos os anjos da terra, já que até aquele momento ele havia reinado sobre homens. Enoque convocou todos os habitantes da terra e disse-lhes assim:
– Fui chamado para subir ao ceu, e não sei o dia em que deverei ir para lá. Irei portanto ensiná-los sabedoria e integridade até a hora de partir.
Mais alguns dias Enoque passou entre os homens, e durante todo o tempo que lhe restou deu-lhes instrução referente à sabedoria, ao conhecimento, a uma conduta de temor a Deus e à devoção, e estabeleceu lei e ordem para regulamentar as relações humanas. Então os que estavam reunidos ao seu redor viram um gigantesco corcel descer do céu, e falaram dele a Enoque, que respondeu:
– Este cavalo é para mim, pois chegou o dia e a hora de eu deixá-los para nunca mais ser visto.
E assim foi. O corcel aproximou-se de Enoque e ele montou, sem cessar ao mesmo tempo de instruir o povo, exortando-os e conclamando a que servissem a Deus e andassem em seus caminhos. Oitocentas mil pessoas seguiram-no ao longo de um dia inteiro; porém no segundo dia Enoque insistiu que seu séquito desse meia-volta:
– Vão para casa, para que a morte não lhes sobrevenha por me seguirem mais adiante.
A maioria deu ouvidos às suas palavras e deu meia-volta, mas alguns permaneceram com ele por seis dias, mesmo depois dele os ter advertido a voltarem para não morrerem. No sexto dia da jornada ele disse aos que o acompanhavam:
– Vão para casa, por que amanhã subirei ao céu, e qualquer um que estiver perto de mim morrerá.
Apesar disso alguns de seus companheiros permanecerem ao lado dele:
– Para onde você for nós iremos. Pelo Deus vivo, apenas a morte nos separará.
No sétimo dia Enoque foi levado ao céu numa carruagem de fogo puxada por cavalos flamejantes. No dia seguinte os reis que haviam dado meia-volta a tempo mandaram mensageiros para inquirir o destino dos homens que haviam se recusado a separar-se de Enoque, pois tinham anotado quantos eram. No local a partir do qual Enoque havia ascendido eles encontraram neve e enormes pedras de granizo e, quando cavaram para procurar, acharam os corpos de todos que haviam ficado para trás com Enoque. Apenas Enoque não estava entre eles: estava no alto, no céu.
AS DEZ GERAÇÕES: A ascensão de Enoque
Essa não foi a primeira vez que Enoque esteve no céu. Uma vez antes disso, enquanto vivia entre os homens, foi-lhe permitido ver todas as coisas que há na terra e no céu. Numa hora em que ele estava dormindo um pesar profundo desceu-lhe sobre o coração; em seu sonho ele chorou, sem saber o que o pesar significava, nem tampouco o que lhe sobreviria. Então lhe apareceram dois homens muito altos; seus rostos eram como o sol, seus olhos como lâmpadas incandescentes, e fogo brotava de seus lábios; suas asas eram mais brilhantes do que ouro, suas mãos mais brancas do que a neve. Eles puseram-se em pé diante da cama de Enoque e chamaram-no pelo nome. Enoque despertou do sono e apressou-se a prestar-lhes reverência, aterrorizado. Esses homens então lhe disseram:
– Ânimo, Enoque, não tenha medo. O eterno Deus mandou-nos até você, e hoje mesmo você subirá ao céu conosco. Conte aos seus filhos e criados, e diga que não o procurem até que o Sehor o traga de volta.
Enoque fez como lhe foi dito, e depois que ele havia falado com seus filhos, instruindo-os a não darem as costas para Deus e a guardarem os julgamentos dele, esses dois homens o chamaram, tomaram-no em suas asas e colocaram-no sobre as nuvens, que passaram a deslocar-se cada vez mais para cima, até depositá-lo no primeiro céu. Aqui foram mostrados a ele os duzentos anjos que governam as estrelas, bem como seu serviço celestial. Aqui ele viu também os depósitos de neve e de gelo, de nuvens e de orvalho.
«RECEBEMOS ORDENS DE ACOMPANHÁ-LO ATÉ ESTE PONTO.»
Dali eles o levaram até o segundo céu, onde Enoque viu os anjos caídos em prisão, que não obedeceram aos mandamentos de Deus, tendo ouvido o conselho de sua própria vontade. Os anjos caídos lhe disseram:
– Ah, homem de Deus! Rogue por nós ao Senhor!
Ele respondeu:
– Quem sou eu, homem mortal, para rogar por anjos? Quem sabe para onde estou indo, ou o que me espera?
Eles então levaram-no ao terceiro céu, onde foi-lhe mostrado o Paraíso, com todas as árvores de belíssimas cores e seus frutos maduros e saborosos, bem como toda espécie de alimento que produziam, brotando com delicioso aroma. No meio do Paraíso ele viu a árvore da vida, no lugar em que Deus repousa quando vem ao Paraíso. Essa árvore, em sua excelência e sua doce fragrância, não pode ser descrita; é mais bela do que qualquer outra coisa criada, e em todos os seus lados é semelhante a ouro e a carmim, sendo transparente como o fogo e cobrindo todas as coisas. De suas raízes no jardim brotam quatro fontes, das quais fluem, leite, mel, óleo e vinho; suas correntes descem até o Paraíso do Éden, que se localiza na fronteira entre a região terrena da corruptibilidade e a região celeste da incorruptibilidade, e daí contornam a terra. Ele viu também os trezentos anjos que cuidam do jardim, e com vozes incessantes e abençoado cântico servem ao Senhor todos os dias. Os anjos que conduziam Enoque explicaram-lhe que este lugar está preparado para os justos, enquanto que o terrível lugar de tortura, preparado para os pecadores, encontra-se nas regiões setentrionais do terceiro céu. Ele viu toda sorte de torturas e escuridão impenetrável, e não há ali luz alguma, exceto um fogo sombrio que queima incessantemente. Aquele lugar tem fogo por todos os lados, e por todos os lados frio e gelo, pelo que tanto queima quanto congela. E os anjos, terríveis e sem piedade, empunham armas violentas, e sua tortura é sem clemência.
Os anjos levaram-no então ao quarto céu, e mostraram-lhe todas as suas entradas e saídas, bem como todos os raios de luz do sol e da lua. Ele viu as quinze miríades de anjos que saem com o sol e servem-no durante o dia, e os mil anjos que o servem durante a noite. Cada anjo tem seis asas, e segue adiante da carruagem do sol, enquanto cem anjos mantém o sol aquecido e acendem-no. Viu também as maravilhosas e estranhas criaturas chamadas fênices e chalkidri, que cuidam da carruagem do sol e o acompanham, levando calor e orvalho. Mostraram-lhe também os seis portões a leste do quarto céu, por onde o sol parte e os seis portões a oeste por onde ele se recolhe, bem como os portões pelos quais sai a lua e aqueles pelos quais ela retorna. No meio do quarto céu ele viu um exército armado, servindo ao Senhor com címbalos e orgãos e vozes que jamais cessam.
No quinto céu Enoque viu as inúmeras hostes dos anjos chamados Grigori. Sua aparência era semelhante à dos homens, seu tamanho maior do que os gigantes, suas feições macilentas, seus lábios silentes. Quando perguntou quem eles eram, os anjos responderam:
– Esses são os Grigori, cujo príncipe Salamiel rejeitou o santo Senhor.
Enoque então disse aos Grigori:
– Por que vocês ficam parados, irmãos, e não servem na presença do Senhor? Por que não desempenham suas tarefas diante do Senhor, de modo a não irá-lo até o fim?
Eles ouviram aquela repreensão, e quando as trombetas soaram juntas, em sonoro clamor, os Grigori começaram também a cantar em uma só voz, e suas vozes chegaram à a presença do Senhor em tristeza e ternura.
No sétimo céu Enoque viu os sete grupos de anjos que organizam e estudam as revoluções das estrelas e as mudanças da lua e a revolução do sol, e supervisionam as boas e más condições do mundo. Organizam também ensinos e instruções e falares doces e cântico e todo tipo de louvor glorioso. Eles mantém em sujeição todas as coisas vivas, tanto no céu quanto na terra. Em meio a eles há sete fênices e sete querubins e sete criaturas aladas, cantando numa só voz.
Quando chegou ao sétimo céu e viu os exércitos flamejantes dos grandes arcanjos e forças incorpóreas e senhorios e principados e autoridades, Enoque ficou aterrorizado, tremendo de pavor. Aqueles que o conduziam então tomaram-no e o colocaram no meio deles, e disseram:
– Ânimo, Enoque. Não tenha medo.
E mostraram-no de longe o Senhor, assentado em seu trono elevado, enquanto todos os exércitos celestiais, divididos em dez gradações, tendo se aproximado, postaram-se de pé sobre os dez degraus de acordo com a sua graduação e prestaram reverência ao Senhor. Em seguida prosseguiram cada um para o seu posto em meio a celebração e júbilo e luz sem limites, cantando cânticos em voz suave e gentil e servindo-o gloriosamente. Dia e noite não se afastam nem partem, permanecendo diante da face do Senhor, efetuando sua vontade, querubins e serafins ao redor do seu trono.
«POSTE-SE DIANTE DA MINHA FACE PARA SEMPRE.»
E as criaturas de seis asas cobrem por inteiro o seu trono, cantando em voz suave diante da face do Senhor:
– Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; o céu e a terra estão cheios da sua glória.
Depois que Enoque havia visto tudo isso os anjos que o conduziam lhe disseram:
– Enoque, recebemos ordens de acompanhá-lo até este ponto.
Eles então partiram, e Enoque não os viu mais. Permaneceu na extremidade do sétimo céu, tomado de terror, dizendo a si mesmo:
– Ai de mim! O que foi me sobrevir!
Mas então veio Gabriel e disse a ele:
– Não tenha medo, levante-se e venha comigo, e permaneça diante da face do Senhor para sempre.
Enoque respondeu:
– Ah, meu senhor, meu espírito me abandonou em temor e tremor. Chame de volta os homens que me trouxeram a este lugar! Eu confiei neles, e com eles eu me postaria diante da face do Senhor.
Gabriel então levou-o agilmente, como uma folha carregada pelo vento, e colocou-o diante da face do Senhor.
Enoque caiu de joelhos e adorou ao Senhor, que disse a ele:
– Enoque, não tenha medo. Levante-se e poste-se diante da minha face para sempre.
E Miguel levantou-o do lugar, e ao comando do Senhor removeu dele suas roupas terrenas, ungiu-o com o óleo santo e o vestiu; quando Enoque olhou para si mesmo, estava semelhante a um dos gloriosos de Deus, e então abandonaram-no o temor e o tremor.
Deus chamou um de seus arcanjos que era mais sábio que todos os outros, e colocara por escrito todos os feitos do Senhor, e disse a ele:
– Traga os livros do meu almoxarifado, dê uma pena a Enoque e interprete os livros para ele.
O anjo fez como lhe fora ordenado, e instruiu Enoque por trinta dias e trinta noites, e seus lábios não cessaram de falar, enquanto Enoque escrevia todas as coisas a respeito do céu e da terra, de anjos e homens, e tudo aquilo sobre o que é próprio ser instruído. Ele também escreveu sobre as almas dos homens, aquelas que não chegam a nascer, e sobre os lugares preparados para elas para sempre. Copiou tudo com precisão, e escreveu trezentos e sessenta e seis livros.
NO OITAVO MILÊNIO NÃO HAVERÁ ANOS, NEM MESES, NEM SEMANAS, NEM DIAS, NEM HORAS.
Depois que Enoque havia recebido todas as instruções do arcanjo, Deus revelou-lhe grandes segredos, cujo teor os próprios anjos desconhecem. Contou-lhe de que forma, a partir da mais inferior escuridão, o visível e o invisível haviam sido criados; como ele formara o céu, a luz, a água e a terra; narrou também a queda de Satanás e a criação e o pecado de Adão, e revelou-lhe ainda que a duração do mundo será de sete mil anos, e que o oitavo milênio será ocasião em que não haverá contagem de tempo: nenhum fim, nem anos, nem meses, nem semanas, nem dias, nem horas.
O Senhor concluiu essa revelação a Enoque com as seguintes palavras:
– Entrego você agora a Samuil e Raguil, que trouxeram-no aqui. Vá com eles para a terra, e conte a seus filhos as coisas que eu disse a você, bem como o que testemunhou do céu mais inferior até o meu trono. Dê-lhes obras escritas por você, para que as leiam, e distribuam os livros aos filhos dos filhos deles, de geração em geração e de uma nação a outra. E eu darei a você meu mensageiro Miguel para [guardar] os seus escritos e os escritos de seus pais, Adão, Sete, Enos, Quenan, Malalel e seu pai Jarede. Não os requererei até a última era, pois já instrui meus dois anjos, Ariuk e Mariuk, a quem coloquei na terra como seus guardiães, e ordenei que os guardem, a fim de que o relato do que farei na sua família não se perca no dilúvio que está por vir. Pois por causa da perversidade e da maldade dos homens eu trarei um dilúvio sobre a terra, e destruirei a todos, mas pouparei um homem íntegro da sua descendência juntamente com todos na sua casa, que agirão em conformidade com a minha vontade. Da descendência desses eu levantarei uma geração numerosa, e por ocasião da extinção dessa família eu mostrarei a eles os livros escritos por você e pelo seu pai, e os guardiães desses livros sobre a terra os mostrarão aos homens íntegros e aos que me agradam. Esses os transmitirão à geração seguinte e esses, tendo-os lido, serão glorificados por fim mais do que antes.
Enoque foi então mandado de volta à terra para permanecer ali por trinta dias instruindo seus filhos. Porém antes que ele saísse do céu Deus mandou-lhe um anjo cuja aparência era como neve, cujas mãos eram como gelo. Enoque olhou para ele, e seu rosto enregelou-se diante do fato de que homens pudessem suportar a visão daquele homem.
Os anjos que haviam-no levado ao céu colocaram-no na sua cama, no lugar em que seu filho Matusalém o aguardava dia e noite.
Enoque reuniu seus filhos e todos na sua casa, e instruiu-os fielmente a respeito de todas as coisas que havia visto, ouvido e escrito, e deu seus livros a seus filhos, para que os guardassem e lessem, insistindo que não ocultassem os livros, mas mostrassem-nos a todos que tivessem desejo de conhecimento.
Quando se completaram os trinta dias o Senhor enviou escuridão sobre a terra, e uma penumbra ocultou os homens que estavam com Enoque. Os anjos apressaram-se em tomar Enoque e carregaram-no ao céu mais elevado, onde o Senhor o recebeu e colocou-o diante de sua face; a escuridão então abandonou a terra, e houve luz. As pessoas voltaram a ver e não compreenderam que Enoque havia sido tomado, e glorificaram a Deus.
Enoque nasceu no sexto dia do mês de Sivan, e foi levado ao céu no mesmo mês, no mesmo dia e na mesma hora em que nasceu. Matusalém apressou-se juntamente com todos os seus irmãos, filhos de Enoque, e ergueu um altar no lugar chamado Acuzã, de onde Enoque havia sido tomado para o céu. Os anciãos do povo vieram para a festividade e trouxeram presentes para os filhos de Enoque, e fizeram grande celebração, festejo e júbilo por três dias, louvando a Deus por ter concedido tamanho sinal através de Enoque, que havia encontrado favor juntamente com eles.
AS DEZ GERAÇÕES: O traslado de Enoque
A pecaminosidade dos homens foi a razão pela qual Enoque foi trasladado ao céu; assim disse o próprio Enoque ao rabi Ishmael. Depois que a geração do dilúvio transgrediu e disse a Deus “Deixe-nos em paz, porque não queremos conhecer os seus caminhos”, Enoque foi carregado ao céu, para servir ali como testemunha de que Deus não era um Deus cruel, a despeito da destruição decretada sobre todas as coisas vivas da terra.
Quando Enoque, sob a condução do anjo ‘Anpiel, foi carregado da terra para o céu, os seres santos, os ofanins, os serafins, os querubins, todos os que movem o trono de Deus, bem como os espíritos ministrantes cuja substância é fogo consumidor – todos esses, à distância de seiscentos e cinqüenta milhões e trezentas parasangas, perceberam a presença de um ser humano, e exclamaram:
– De onde vem esse odor de um nascido de mulher? Como pode ele entrar no mais elevado dos anjos reluzentes de fogo?
Porém Deus respondeu:
– Ah, meus servos e exércitos, vocês, meus querubins, ofanins e serafins, não seja isto ofensa para vocês, pois todos os filhos dos homens rejeitaram a mim e à minha potente autoridade e prestaram reverência aos ídolos, pelo que transferi a Shekiná da terra para o céu. Porém esse homem, Enoque, é o eleito dos homens. Há nele mais fé, justiça e integridade do que em todos os outros; ele é a única recompensa que extraí do mundo terrestre.
Antes que Deus pudesse ser admitido no serviço junto ao trono divino os portões da sabedoria foram abertos para ele, bem como os portões da compreensão, do discernimento, da vida, da paz, da Shekiná, da força e do poder, da potência, da amabilidade, da graça, da humildade e do temor ao pecado.
Equipado por Deus com sabedoria, sagacidade, discernimento, conhecimento, erudição, compaixão, amor, bondade, graça, humildade, força, poder, potência, esplendor, beleza, harmonia de proporções e todas as outras qualidade de excelência em medida extraordinária, mais do que já foi concedido a qualquer ser celestial, Enoque recebeu ainda muitos milhares de bençãos de Deus, e sua altura e extensão tornaram-se idênticos à altura e à extensão do mundo; trinta e seis asas foram anexadas ao seu corpo, à direita e à esquerda, cada uma delas grande como o mundo, e lhe foram concedidos trezentos e sessenta e cinco mil olhos, cada um deles brilhante como o sol.
Um trono magnífico foi erguido para ele ao lado dos portões do sétimo palácio celestial, e um arauto proclamou em todo o céu a respeito de Enoque que dali em diante ele deveria ser chamado de Metatron nas regiões celestes.
– Nomeio meu servo Metatron príncipe e líder sobre todos os príncipes do meu domínio, com única exceção dos oito príncipes augustos e exaltados que levam meu nome. Qualquer anjo que tiver um pedido a me propor deve apresentar-se diante de Metatron, e aquilo que a meu comando ele ordenar vocês devem observar e colocar em prática, pois o príncipe da sabedoria e o príncipe do discernimento estão a serviço dele, e irão lhe revelar as ciências dos celestiais e dos terrestres, o conhecimento da ordem presente do mundo e o conhecimento da ordem futura do mundo. Além disso, faço-o guardião dos tesouros dos palácios no céu ‘Arabot, e dos tesouros de vida que estão no mais alto céu.
Pelo amor que nutria por Enoque, Deus trajou-o com uma roupa magnífica, à qual estavam presos todos os tipos de luminárias existentes, e uma coroa reluzente com 49 pedras preciosas, cujo esplendor penetrava todas as partes dos sete céus e os quatro cantos da terra. Na presença da família celestial Deus colocou essa coroa sobre a cabeça de Enoque, chamando-o de “pequeno Senhor”. [A coroa] traz também as letras através das quais o céu e a terra foram criados, e os rios e mares, montanhas e vales, planetas e constelações, relâmpago e trovão, neve e granizo, tempestade e furacão – estas e também todas as coisas necessárias no mundo, bem como os mistérios da criação.
Mesmo os príncipes do céu tremem quando vêem Metatron, e prostram-se diante dele; são tomados de assombro diante de sua magnificência e majestade, e do esplendor e da beleza que irradiam dele. Mesmo Samael, o maior entre eles, mesmo Gabriel, o anjo do fogo, Bardiel, o anjo do relâmpagao, Za’miel, o anjo do furacão, Zakkiel, o anjo da tempestade, Sui’el, o anjo do terremoto, Ra’shiel, o anjo do redemoinho, Shalgiel, o anjo da neve, Matriel, o anjo da chuva, Shamshiel, o anjo do dia, Leliel, o anjo da noite, Galgiel, o anjo do sistema solar, Ofaniel, o anjo da roda da lua, Kobabiel, o anjo das estrelas e Rahtiel, o anjo das constelações.
Quando Enoque foi transformado em Metatron seu corpo tornou-se fogo celestial – sua carne tornou-se chama, suas veias fogo, seus ossos brasas ardentes, a luz de seus olhos claridade celestial, seus glóbulos oculares tochas de fogo, seu cabelo flama reluzente, todos os seus membros e orgãos faíscas ardentes, e sua constituição um fogo consumidor. À sua direita cintilavam chamas de fogo, à sua esquerda ardiam tochas de fogo, e por todos os lados ele era cingido por tempestade e redemoinho, por furacão e soar de trovões.

AS DEZ GERAÇÕES: Enos
Perguntaram a Enos o nome do seu pai e ele disse “Sete”. Os que perguntavam, a gente do seu tempo, prosseguiram:
– E o pai de Sete, quem foi?
Enos:
– Adão.
– E o pai de Adão, quem foi?
– Adão não teve pai nem mãe, Deus formou-o do pó da terra.
– Mas o homem não se parece em nada com pó!
– Depois de morrer o homem retorna ao pó, como Deus disse: “o homem ao pó voltará”. Mas no dia da sua criação o homem foi feito à imagem de Deus.
– E a mulher, como foi criada?
– Macho e fêmea os criou.
– Mas como?
– Deus tomou água e terra e moldou-os na forma de homem.
– Mas como? – insistiram os que o questionavam.
Enos tomou seis torrões de terra, misturou-os e modelou-os, formando uma imagem a partir de pó e argila.
– Mas – disseram as pessoas – essa imagem não anda nem tem qualquer sopro de vida.
Enos foi então mostrar como Deus soprara o fôlego da vida nas narinas de Adão, mas quando começou a soprar na imagem que tinha formado Satanás entrou nela, e a figura começou a andar, e as pessoas do seu tempo que haviam estado perguntando a Enos sobre esses assuntos saíram correndo atrás dela, dizendo:
– Qual é a diferença entre ajoelhar diante desta imagem e demonstrar deferência a um homem?
SUAS FEIÇÕES PASSARAM A LEMBRAR CENTAUROS E MACACOS, E OS DEMÔNIOS PERDERAM O MEDO DOS HOMENS.
A geração de Enos foi por essa razão a primeira de adoradores de ídolos, e a punição pela sua insensatez não demorou a chegar. Deus fez com o mar ultrapassasse seus limites, e parte da terra foi inundada. Foi também ocasião em que as montanhas tornaram-se rochas, e os cadáveres dos homens começaram a apodrecer. Outra conseqüência do pecado da idolatria foi que as feições dos homens deixaram de ostentar a imagem e semelhança de Deus, como faziam os rostos de Adão, Sete e Enos. Suas feições passaram a lembrar centauros e macacos, e os demônios perderam o medo dos homens.
Porém as práticas idólatras introduzidas na época de Enos trouxeram uma conseqüência ainda mais grave. Quando Deus expulsou Adão do Paraíso a Shekiná ficou para trás, entronizada acima de um querubim sob a árvore da vida. Os anjos desciam em hostes do céu e iam até ela para receber suas instruções, e Adão e seus descendentes sentavam-se junto do portão para aquecer-se no esplendor da Shekiná, sessenta e cinco vezes mais brilhante do que o esplendor do sol. Este brilho da Shekiná cura as doenças de todos sobre os quais recai, e nem insetos nem demônios podem aproximar-se deles ou fazer-lhes mal.
Foi assim até o tempo de Enos, quando os homens começaram a ajuntar ouro, prata, pedras preciosas e pérolas de todas as partes da terra, e fizeram com eles ídolos de mil parasangas de altura. E que é pior: através das artes mágicas ensinadas a eles pelos anjos Uza e Azael, fizeram-se passar por mestres das esferas celestes e forçaram o sol, a lua e as estrelas a servirem-nos ao invés de a Deus. Isso levou os anjos a perguntarem a Deus:
– “O que é o homem, para que te lembres dele?” Porque o senhor abandonou o mais alto céu, o assento da sua glória e seu exaltado trono no Arabot e desceu até os homens, que prestam adoração a ídolos, colocando-o no mesmo nível que eles?
A Shekiná foi assim induzida a deixar a terra e ascender ao céu, em meio ao clangor e o trinado das trombetas das miríades de exércitos celestiais.
AS DEZ GERAÇÕES: A queda dos anjos
A depravação da humanidade, que começou a manifestar-se no tempo de Enos, havia se multiplicado enormemente no tempo de seu neto Jarede, devido à queda dos anjos. Quando viram as belas e atraentes filhas dos homens, os anjos cobiçaram-nas, e disseram:
– Tomaremos esposas apenas dentre as filhas dos homens, e geraremos filhos com elas.
Seu líder Shemhazai disse:
– Temo por mim que vocês não coloquem esse plano de vocês em execução, e seja apenas eu a sofrer as conseqüências de um grande pecado.
E eles todos responderam:
– Faremos um juramento, comprometendo-nos individualmente e em grupo a não abandonarmos o plano, mas levá-lo a cabo.
Duzentos anjos desceram ao cume do monte Hermom, que deve seu nome a esta precisa ocasião, pois os anjos haviam jurado cumprir seu propósito sob pena de Herem/anátema. Sob a liderança de vinte capitães eles se macularam com as filhas dos homens, às quais ensinaram feitiços, encantos, o modo correto de se cortar raízes e a eficácia das plantas. O resultado desses casamentos mistos foi uma raça de gigantes de três mil varas1 de altura, os quais consumiram os recursos dos homens. Quando todas as reservas haviam se esgotado, e vendo que não podiam obter mais nada deles, os gigantes voltaram-se contra os homens e devoraram muitos deles, e o restante dos homens começou a transgredir contra as aves, animais selvagens, répteis e peixes, comendo sua carne e bebendo seu sangue.
A terra então protestou contra esses malfeitores, mas os anjos decaídos continuaram a corromper a humanidade. Azazel ensinou os homens a fazerem facas, armas, escudos e cotas de malha para usarem em carnificinas. Mostrou-lhes os metais e como trabalhá-los, bem como pulseiras e toda espécie de quinquilharias; ensinou-os a usar ruge nos olhos e a embelezarem os cílios, e a se enfeitarem com as jóias mais raras e preciosas e toda sorte de tintas. O chefe dos anjos caídos, Shemhazai, instruiu-os a respeito de exorcismos e da técnica de cortar raízes; Armaros ensinou-os a conjurar feitiços; Barakel, a divinação pelas estrelas; Kawkabel, a astrologia; Ezekil, a augurar através das nuvens; Arakiel, a ler os sinais da terra; Samsawil, os sinais do sol; e Seriel, os sinais da lua.
Enquanto todas essas abominações corrompiam a terra, o piedoso Enoque vivia num lugar secreto. Ninguém dentre os homens conhecia seu local de residência, ou sabia o que havia acontecido com ele, pois ele habitava com os anjos sentinelas e os santos. Certa ocasião ele ouviu uma voz endereçada a ele:
– Enoque, você que é um escriba de integridade, vá até os sentinelas do céu, que abandonaram o alto céu, o lugar de eterna santidade, a fim de se contaminarem com mulheres, fazendo o que homens fazem, tomando esposas para si e entregando-se nos braços da destruição sobre a terra. Vá e anuncie a eles que não encontrarão paz nem perdão; todas as vezes que tiverem alegria em sua descendência eles verão a morte violenta dos seus filhos, e suspirarão diante da ruína de suas crianças. Orarão e suplicarão para sempre, mas jamais obterão misericórdia ou paz.
Enoque foi até Azazel e os demais anjos caídos, a fim de anunciar a condenação proferida contra eles. Ficaram todos apavorados; tomados de tremor, imploraram a Enoque que preparasse para eles uma petição e fosse lê-la para o Senhor do céu, pois eles não podiam falar com Deus como antes, nem levantar os olhos para o céu, por vergonha diante dos seus pecados.
Enoque fez o que eles pediam, e numa visão foi-lhe concedida a resposta que ele deveria levar de volta aos anjos. Em sua visão Enoque foi elevado ao céu sobre nuvens, e colocado diante do trono de Deus. Deus disse:
– Vá e diga aos sentinelas do céu que o mandaram para interceder por eles: “Na verdade eram vocês que deveria pedir em favor dos homens, não homens em favor de vocês. O que levou vocês renegaram os céus elevados, santos e eternos, e poluir-se com as filhas dos homens, tomando-as como esposas, fazendo como as raças da terra e gerando gigantes? Os gigantes gerados pela união de seres de carne e seres espirituais serão chamados na terra de espíritos malignos, e a terra será a habitação deles. Espíritos malignos procederão de seus corpos, pois foram criados do alto, e os santos sentinelas são seu princípio e sua origem; serão espíritos malignos sobre a terra, e de espíritos malignos serão chamados. Os espíritos do céu têm o céu por habitação, mas a habitação dos espíritos da terra, nascidos sobre a terra, é a terra. Os espíritos dos gigantes irão devorar, oprimir, atacar, guerrear e causar destruição sobre a terra, e infligirão tormento. Não consumirão nenhuma espécie de comida, tampouco terão sede, e serão invisíveis. Esses espíritos se levantarão contra os filhos dos homens e contra as mulheres, porque procederam delas. Desde os dias do assassinato e da destruição e da morte dos gigantes, momento em que os espíritos abandonarem a alma de sua carne, a fim de destruírem sem incorrerem em julgamento – assim eles destruirão até o dia em que seja consumada a grande consumação do grande mundo”. Agora, quanto aos sentinelas que o enviaram para interceder por eles, que residiam anteriormente no céu, diga a eles: “Vocês estavam no céu, e embora as coisas ocultas não tivesse ainda sido reveladas a vocês, vocês conhecem mistérios sem valor, e na dureza do seu coração repassaram esses mistérios para as mulheres, e através deles homens e mulheres ocasionam muita maldade sobre a terra”. Diga portanto a eles: “Vocês não tem paz!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário